
Desconheço autor da capa.
Não há luto nacional, não há bandeira a meia-haste, não há, portanto, um reconhecimento oficial da enorme dívida que todos (eu sei que não somos todos…) temos para com Otelo Saraiva de Carvalho. Em 25 de Abril de 1974 não esteve sozinho, é certo, e quem esteve com ele não teve importância menor (lembremo-nos de Salgueiro Maia e muitos outros), mas Otelo foi o comandante operacional. Foi decisivo. Seria o primeiro a pagar o atrevimento se a coisa tivesse corrido mal.
Afinal, que homem poderia ser mais odiado pelos viúvos da ditadura (como alguém já os designou)? Andaram assanhados nas últimas horas, aproveitando a morte de Otelo para destilar ódio contra o 25 de Abril. Nunca aceitaram a mudança, mas agora, mais do que nunca, sublinham alegadas virtudes do fascismo e anseiam por um regresso ao tempo da mordaça, da miséria, da repressão, da vida sofrida de milhões em detrimento das mordomias de uns quantos. Fazem-no já de forma aberta, sem subtilezas. Tristemente, não houve, a nível oficial, quem desse um murro na mesa e desse um sinal que lhes deixasse claro que o país não vai por aí, não vai voltar atrás, e há quem esteja disposto a defender a Liberdade. Os últimos dias provaram, como se tal fosse preciso, que a Liberdade nunca está garantida. A retórica não chega, a Liberdade pratica-se, e só assim será defendida. Os vampiros estão sempre à espreita!
Sinto muita vergonha quando o meu país não sabe homenagear devidamente o homem que simboliza o 25 de Abril. Isso significa que não sabemos merecer a Liberdade conquistada. É esse o paradoxo. E é difícil imaginar o que passa pela cabeça de alguém com poder para determinar essa homenagem, mas não o faz. António Costa disse que “O Estado tem de ter critérios consistentes e coerentes”. Uma alusão ao facto de, por exemplo, não ter havido luto nacional devido à morte de Salgueiro Maia. É verdade, o Estado deve ter critérios consistentes e coerentes, mas os governos não são o Estado, e é precisamente por isso que desde o 25 de Abril podemos votar e eleger (embora indirectamente) quem nos governa. Os governos mudam para que o Estado também possa mudar e ser melhor.
No entanto, com ou sem homenagens oficiais, com ou sem luto nacional, Otelo tem um lugar garantido na História de Portugal, tem um lugar garantido, e eterno, no coração daqueles que amam a Liberdade.
Gosto de pensar que os seres humanos valem pelo que têm no coração. E não há maneira de nos roubarem o que temos no coração. Não há regime, nem Governo, nem ditadura, nem polícia política que nos arranque a alma.
Nem mais, disse tudo.
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