
Nota prévia: desde o início desta fase da guerra, os ataques israelitas mataram 54 607 pessoas na Faixa de Gaza e provocaram mais de 120 000 feridos. Hoje, entre os 37 mortos, há três jornalistas.
Gaza está a ferro e fogo, com fome, sem medicamentos, sem abrigos, com a lista de mortos e estropiados a crescer diariamente. Cresce também a desgraça e a revolta, perante o massacre e perante a cumplicidade silenciosa do mundo, entenda-se dos governantes que nos envergonham.
Mas não é apenas Gaza. A Cisjordânia está a transformar-se num outro campo de atrocidades em que os colonos israelitas, quais cowboys a roubar as terras dos “peles-vermelhas”, atacam as pessoas, incendeiam casas e carros de palestinianos, queimam as culturas, cortam as árvores e abatem os animais. Tudo isto conjugado com as decisões políticas do governo de Benjamin Netanyahu que constrói novos colonatos, recupera os que tinham sido anulados quando da retirada de 2005 (decidida unilateralmente por Ariel Sharon) e expande os que já existiam. A vida dos palestinianos na Cisjordânia está a tornar-se impossível e o objectivo é precisamente esse. Talvez um outro Trump, ou ainda este, apresente um plano para uma segunda Riviera, desta vez sem as águas do Mediterrâneo, mas para o efeito isso pouco conta e sempre há o Mar Morto.
Comunicado tímido
Num rebate de consciência – só pode ser – vários diplomatas europeus e o próprio gabinete de representação da União Europeia na Cisjordânia e em Gaza, assinam um comunicado de condenação e repúdio pela acção dos colonos israelitas em Mughayir al-deir, a cerca de 30 km a nordeste de Ramallah, Área C (controlada por Israel) da Cisjordânia. É o próprio comunicado que refere a “repetida violência dos colonos”, “confiscação de terras”, “dezenas de milhar de palestinianos na Área C enfrentam alto e iminente risco de deslocação forçada”, “sete comunidades vizinhas foram já forçadas a sair”, no que o comunicado descreve como sendo o reflexo de “um padrão mais amplo” de deslocações forçadas.
A par do reconhecimento da gravidade da situação, os mesmos diplomatas – pasme-se – pedem a Israel para respeitar a Lei Internacional e para proteger as comunidades palestinianas de novos actos de violência e intimidação. Um pedido ridículo, quando os próprios diplomatas sabem e reconhecem que há um padrão estratégico, que conta com a cobertura do governo de Israel e do exército, com o objetivo claro de fazer uma limpeza étnica na Cisjordânia, o mais ampla possível, na lógica de quanto menos palestinianos melhor e quanto mais território para Israel melhor. Curiosamente, os diplomatas que assinam este comunicado nunca utilizam a expressão “limpeza étnica” mas sabem que é isso que está em causa.

Lendo um comunicado destes, não podemos deixar de ficar com a sensação de que ele é apenas um lavar de consciência. Se estes diplomatas e os países que representam quisessem, de facto, fazer alguma coisa para travar a tragédia que já se vive na Cisjordânia, sabem muito bem que o caminho não é o dos comunicados sonsos que apenas servem para iludir e calar a opinião pública dos respectivos países, dando a sensação e que estão a tentar fazer alguma coisa.
E, pasme-se, nem num comunicado destes, assim tão inócuo e inconsequente, encontramos o nome de Portugal. Nem um passinho em frente, mesmo que frouxo e tímido. Nada. Rigidez e fidelidade absoluta sabe-se lá a que princípios. Assinam o comunicado as missões diplomáticas da Bélgica, França, Itália, Espanha, Suécia, Reino Unido e os gabinetes de representação do Canadá, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Irlanda, Holanda, e o Gabinete do Representante da União Europeia na Cisjordânia e em Gaza.
O negócio das armas
Para além de tudo isto, ficámos a saber por estes dias que a venda de armas de Israel para a Europa aumentou exponencialmente. Os números foram divulgados pelo governo israelita e o próprio ministro da defesa fez questão de se fazer fotografar com os bons resultados do negócio, que significam um record de exportações no chamado sector da defesa.

Em 2024, Israel exportou armas e munições no valor de 14 mil 790 milhões de dólares, mais 13% do que em 2023. Os clientes europeus foram os melhores. A Europa representa agora 54% do total de vendas israelitas quando no anterior se tinha ficado pelos 35%. Isto é, independentemente da guerra na Faixa de Gaza e das vozes e declarações muito indignadas contra as atrocidades, o velho continente faz negócios como habitualmente.
Assim estamos…
Pinhal Novo, 5 de Junho de 2025
19h00
jmr
