O que falta destruir na Faixa de Gaza?

A empresa de segurança (entenda-se de mercenários) Safe Reach Solution supervisiona a distribuição de ajuda feita pela Fundação Humanitária de Gaza (criada por Israel e Estados Unidos para fazer o que devia ser feito pelas agências da ONU)

Todos os ataques israelitas são justificados com a presença de um “terrorista” no local bombardeado ou uma infraestrutura “terrorista” ou ainda um actividade suspeita que coloca em causa a segurança dos militares israelitas. Invariavelmente, é este o argumento para justificar os ataques e as chamadas vítimas colaterais. Todos os dias, há um comunicado do exército israelita a dizer que foram atacados dezenas ou centenas de “alvos terroristas”, como se isso pudesse justificar a morte de milhares de inocentes.

É muito estranho que um dos exércitos mais competentes do mundo provoque tantos danos colaterais. Ou então essa alegada competência passa mesmo por aí.

Desumanização

Os episódios de desprezo pelos Direitos Humanos repetem-se a cada hora que passa. Se nos lembrarmos das palavras de alguns responsáveis israelitas logo a seguir ao ataque do Hamas, quando iniciaram o processo de desumanização dos palestinianos, percebemos melhor o que está a ser feito. Classificados como “Animais desumanos”, os palestinianos ficaram assim à mercê de tudo o que Israel decidisse fazer, estando à partida justificada todas as eventuais atrocidades porque, afinal, não eram seres humanos que estavam em causa.

Mas hoje, com mais de 600 dias de guerra e as imagens que chegam da Faixa de Gaza, é mais do que tempo de nos questionarmos: quem são afinal os “animais desumanos”?

Dos últimos dias há registo de dois casos que se fossem no campo israelita já teriam provocado as mais indignadas reacções e manifestações de apoio aos atingidos.

Em Khan Younes, 23 de Maio, nove dos dez filhos de um casal de médicos palestinianos foram assassinados, em casa, num ataque israelita. A Dra. Al Najjar estava a trabalhar no hospital para onde foram transportados os filhos, alguns totalmente carbonizados. O Dr. Al Najjar e um dos filhos ficaram gravemente feridos. Como sempre, o exército israelita diz que vai investigar o que aconteceu.

Médica Alaa AL Najjar e o único filho que sobreviveu ao ataque israelita. Foto: Agência Palestiniana de Notícias

A 28 de Maio, eram duas da madrugada, um ataque israelita atingiu a casa da família do jornalista Osama Al-Arbid’s. O jornalista ficou ferido, oito pessoas morreram.

Osama Al Arbid’s a ser retirado dos escombros. Foto: redes sociais

O Chefe da UNRWA, Philippe Lazzarini, denunciou o que parece ter sido a execução de um dos funcionários da agência. Kamal trabalhava para a UNRWA há 20 anos. Saiu de casa, equipado com colete da ONU, num veículo da ONU. Diz Lazzarini: “a 30 de março, o corpo de Kamal foi descoberto perto de uma vala comum, junto aos restos mortais dos trabalhadores humanitários do Crescente Vermelho Palestiniano e de outros membros da defesa civil, mortos pelas Forças israelitas. Kamal foi morto com um ou vários golpes na parte de trás do crânio. Foi então enterrado ao lado dos outros membros da equipa do Crescente Vermelho. Apesar de vários pedidos da UNRWA ao Governo de Israel, não foi recebida qualquer resposta sobre a morte de Kamal”.

Funeral dos médicos e paramédicos do Crescente Vermelho assassinados num ataque israelita. Foto: Crescente Verrmelho Palestiniano

A família Al Najjar, a família de Osama Al-Arbid’s e Kamal, o trabalhador da UNRWA, eram certamente “animais desumanos”.

O estado a que Gaza chegou

O mais recente ponto de situação feito pela ONU, lembra alguns dos aspectos que devem ser tidos em conta:

– A população de Gaza, metade da qual são crianças, enfrenta uma crise de sobrevivência.

– O novo sistema militarizado de distribuição de ajuda não satisfaz as necessidades nem a dignidade da população de Gaza, coloca-a em risco e é contrário aos princípios humanitários;

– Mais de 632.000 pessoas foram novamente deslocadas desde 18 de Março, com mais de 30 ordens de deslocação a empurrar as pessoas para um espaço cada vez mais pequeno, com um enorme preço físico e psicológico;

– O sistema de saúde em Gaza está sobrecarregado por um novo declínio no número de pontos de cuidados de saúde funcionais e acessíveis e por uma capacidade de camas criticamente insuficiente;

– Pelo menos 28 trabalhadores humanitários foram mortos em Gaza desde 1 de Maio. Desde 7 de outubro, pelo menos 452 trabalhadores humanitários, incluindo 315 funcionários da ONU, foram mortos.

– Quase 700.000 mulheres e raparigas enfrentam uma emergência silenciosa de higiene menstrual, com consequências graves para a sua saúde, protecção, dignidade e direitos humanos.

– Desde 18 de Março, a ONU lembra que “81% da Faixa de Gaza é considerada zona militarizada ou sob ordens de deslocação”.

Quantos dias faltam para terminar a guerra?

Recentemente, alguma imprensa israelita lembrou que Israel já venceu uma guerra em 6 dias e que a guerra na Faixa de Gaza já passou os 600 dias.

Acredito que muitos dos que andam a defender o massacre que Israel está a cometer na Faixa de Gaza vão um dia sentir vergonha de terem sido cúmplices na matança. Nesse dia serão confrontados com a consciência e com uma pergunta: como posso ter sido tão desumano? O arrependimento até poderá ser sincero, mas será demasiado tarde.

Pinhal Novo, 29 de Maio de 2025

18h30

jmr

One thought on “O que falta destruir na Faixa de Gaza?

  1. Não creio que alguma vez essas criaturas sintam remorsos , porque para tal teriam que ter algo que não têm : consciência e empatia.

    Já não existem palavras para falar sobre o holocausto palestiniano e os crimes imperdoáveis dos sionistas e apoiantes.

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