Israel a “brincar” com a Síria. E com o fogo…

Representantes drusos reunidos com autoridades da região de Damasco. Foto: Agência de Notícias Síria, 02MAI2025

O “argumento druso” já está a ser utilizado. Na sequência do último texto aqui publicado às primeiras horas de 2 de Maio em o-argumento-druso não foi preciso esperar muito para que os sinais se confirmassem. Ainda na madrugada de 2 de Maio, Israel atacou um alvo junto ao Palácio Presidencial em Damasco, ataque confirmado por um comunicado conjunto do primeiro-ministro e do ministro da defesa de Israel: “Israel atacou próximo do Palácio Presidencial em Damasco. É uma mensagem clara para o regime sírio. Não iremos permitir o posicionamento de forças (sírias) a sul de Damasco ou qualquer ameaça à comunidade drusa”.

Atá à meia-noite de 2 de Maio, os ataques israelitas a território sírio foram mais de 20 e estão a ser considerados os mais violentos em 2025. O Observatório Sírio para os Direitos Humanos disse que os alvos foram armazéns e instalações militares em Daraa (sudoeste) e nas regiões de Hama e Latakia, no noroeste da Síria. A Agência de Notícias Sana confirmou pelo menos um morto devido a estes ataques.

Na rede Telegram, o ministério da defesa de Israel divulgou várias mensagens, confirmando que atingiu “uma base militar, canhões antiaéreos e infraestruturas de mísseis terra-ar na Síria” e anunciou que “cinco cidadãos sírio-drusos foram retirados para receberem tratamento médico em Israel (…) depois de terem sofrido ferimentos na Síria. Disse também que o exército israelita está posicionado no sul da Síria e preparado para impedir a entrada de forças hostis na zona das aldeias drusas.

Esta sexta-feira Israel anunciou um encontro de Benjamin Netanyahu com o líder druso em Israel, Sheikh Mowafaq Tarif, que terá agradecido ao primeiro-ministro israelita os ataques desferidos na Síria e a “protecção” da comunidade drusa síria.

O primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu com Sheik druso de Israel Mowafaq Tarif, 2 de Maio de 2025. Foto: gabinete do primeiro-ministro de Israel.

A mentira usada como arma

Tudo isto a aproveitar uma situação que, já se sabe, teve origem numa mensagem fabricada para provocar discórdia e divisão entre os sírios. Já se percebeu que os combates entre grupos armados ligados ao novo poder sírio e a comunidade drusa tiveram origem numa mensagem forjada a insultar o Profeta e atribuída a um líder druso. O próprio governo sírio já reconheceu que foi uma mensagem forjada e reconheceu também que não controla os grupos que entraram em confronto com os drusos, prometendo que serão responsabilizados. Falta saber a capacidade do actual governo sírio para responsabilizar os referidos grupos, mas é esta a posição do governo de Damasco.

O Presidente sírio Ahmed Al-Sharaa recebe o líder druso libanês Walid Jumblatt, 2 de Maio de 2025. Foto: Agência de Notícias Síria

O Presidente sírio, Ahmed Al-Sharaa, quis dar um sinal à comunidade síria e recebeu em Damasco o líder druso libanês Walid Jumblatt que apelou aos drusos sírios para recusarem a ingerência de Israel.  

Depois de um início de semana de grande violência que terá provocado cerca de uma centena de mortos, a situação está, aparentemente, controlada, tendo sido firmados acordos entre a comunidade drusa e as autoridades sírias.

Neste contexto, Israel arroga-se o direito de interferir directamente em assuntos internos sírios para alegadamente “proteger” a minoria drusa na Síria, ao mesmo tempo que mata palestinianos na Faixa de Gaza (esta sexta-feira matou 42 pessoas, segundo a defesa civil de Gaza), através de bombardeamentos e também através da sujeição da população a carências de toda a ordem, utilizando a fome como arma de guerra. E arroga-se ainda o direito de impor limitações ao governo sírio relativamente à utilização das forças armadas sírias. É a isto que Israel e os aliados ocidentais chamam de novo Médio Oriente.

Israel está a querer fazer da Síria um lugar ainda mais perigoso do que já é, depois de quase 14 anos de guerra civil, centenas de milhares de mortos e desaparecidos, e com todas as marcas e divisões que não é difícil adivinhar. Alguém consegue imaginar o que o mundo não estaria a fazer e a dizer se fosse a Síria a interferir de forma semelhante em Israel?

Pinhal Novo, 3 de Maio de 2025

03h00

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