
Com a atenção virada para o cessar-fogo na Faixa de Gaza e a troca de reféns israelitas por prisioneiros palestinianos, a vida dos cerca de três milhões de palestinianos na Cisjordânia está transformada num inferno. Não é de agora, mas está a ficar cada vez pior. Um exemplo: a UNRWA (agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos) disse que quase todos os 20 mil residentes do campo de Jenin foram deslocados nos últimos dois meses.
Jenin é um bastião da resistência palestiniana à ocupação na Cisjordânia e tem sido frequentemente atacada pelo exército israelita, mas desde 21 de Janeiro (dois dias após a entrada em vigor do cessar-fogo na Faixa de Gaza) está a ser o principal alvo das forças Israelitas e o Ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, disse que as forças israelitas vão ficar enquanto a operação não estiver terminada. Israel argumenta que persegue o Hamas e a Jihad Islâmica, tem destruído fábricas de explosivos, tem apreendido armamento e abateu combatentes palestinianos.
Operação vai continuar
A agência Sada News cita uma fonte militar israelita de acordo com a qual “a operação em Jenin irá continuar durante várias semanas para criar uma nova realidade”. A Sada News refere também a televisão pública israelita a quem uma fonte militar disse que Jenin “é a cabeça da serpente”, confirmando também que os telefones, as casas e as famílias de prisioneiros palestinianos libertados recentemente estão a ser escrutinados pelos serviços de segurança.
De acordo com fontes oficiais palestinianas, pelo menos 25 palestinianos foram mortos em Jenin desde o início da operação, incluindo nove combatentes, um idoso de 73 anos e uma criança de dois anos. Do lado israelita a informação refere pelo menos 35 combatentes abatidos e mais de uma centena de detidos. As forças israelitas têm utilizado helicópteros, drones e buldózeres blindados que vão destruindo as infraestruturas na cidade e no campo de refugiados, rasgando as ruas e danificando sistemas de água, esgotos e electricidade. A população civil é atingida de forma indiscriminada, bastando ter o azar de estar “no sítio errado à hora errada”. O avô da menina de dois anos abatida em casa mostrou às televisões um buraco da bala no sofá de casa, e outros buracos na janela da casa onde a família jantava. As crianças refugiaram-se mais no interior da casa para fugir às balas, mas nem isso salvou Layla. de A avó explicou que a menina, Layla Al-Khatib, era filha única e órfã de pai e acusou os militares israelitas de não a deixarem aceder a uma ambulância para levar Layla ao hospital.
Demolições
Na tarde de domingo (2 de Fevereiro) as forças israelitas destruíram à bomba grandes áreas no campo de refugiados de Jenin, incluindo cerca de 20 edifícios, segundo a agência de notícias palestiniana (WAFA); 23, segundo Israel. Várias explosões em simultâneo foram registadas em vídeo. A Autoridade Palestiniana classifica o ataque como “uma cena brutal semelhante à dimensão da destruição a que a Faixa de Gaza foi sujeita”.

Cisjordânia
O Hamas apelou entretanto a uma “escalada na resistência” contra Israel depois da demolição de edifícios em Jenin.
A Cisjordânia está a “ferro-e-fogo” e tem acontecido com frequência que a situação seja relegada para segundo plano face aos desenvolvimentos em Gaza, mas os números são elucidativos: o Ministério da Saúde palestiniano refere que desde Outubro de 2023, pelo menos 883 palestinianos foram mortos pelo exército ou por colonos israelitas; no mesmo período pelo menos 30 israelitas morreram em ataques palestinianos ou durante as operações militares
O norte da Cisjordânia é, neste momento, o principal alvo dos militares israelitas, mas toda a Cisjordânia tem sido atacada, por militares ou colonos, como aconteceu nas últimas horas perto de Jericó, onde os colonos incendiaram uma mesquita.
Em várias cidades da Cisjordânia onde desenvolve ataques, o exército israelita tem expulsado a população civil de muitas casas de habitação para aí instalar centros de comando provisórios. Toda a região em redor de Jenin está bloqueada por postos de controlo.
Casa Branca
Benjamin Netanyahu encontra-se esta segunda-feira (3 de Fevereiro) com Donald Trump, na Casa Branca. Leva em carteira o incentivo de Bezalel Smotrich (ministro de extrema-direita) para que a anexação da Cisjordânia seja colocada em cima da mesa. Netanyahu é o primeiro líder estrangeiro que Trump recebe neste regresso à Casa Branca e isso diz bem da proximidade entre os dois homens e, principalmente, entre das políticas de Israel e dos Estados Unidos relativamente à questão palestiniana. Os palestinianos sabem que nada de bom podem esperar deste encontro e sabem também que muito dificilmente a chamada comunidade internacional vai ter posição diferente da que teve em relação a Gaza durante os 15 meses de guerra: vai dizendo “umas coisas” e Israel vai fazendo o que quer. Ninguém salvou Gaza, ninguém vai salvar a Cisjordânia.
* Os dados deste texto são os conhecidos à hora a que foi concluído. É possível que sejam actualizados/corrigidos.

obrigado por estas crónicas. Obrigado pelo teu jornalismo. Forte abraço
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