Secção Palestina

Cela colectiva na “secção Palestina”. Foto: jmr

A guerra tem muitas coisas horríveis, mas mesmo quando não há guerra o ser humano consegue ser terrivelmente mau e quando pensamos que já vimos o pior que podemos imaginar, acabamos surpreendidos.

Em Damasco, a “secção Palestina” foi até agora um centro de detenção e interrogatório dos serviços secretos sírios, um verdadeiro lugar do demónio. Quem passa por este edifício na autoestrada que liga Damasco ao norte da Síria, não consegue imaginar o que escondem aquelas paredes.

Percorrer escadarias e corredores, espreitar para a miséria patente nas celas minúsculas, escuras e húmidas, olhar os desenhos e inscrições feitos nas paredes sabe-se lá como, olhar para os traços marcados na parede que marcam a passagem dos dias e imaginar como deve ter sido longo cada minuto passado ali, tudo isso, provoca arrepios. Fazemos aquela pergunta tão elementar: como pode um ser humano fazer tanto mal a outro seres humanos.

As celas têm as portas entreabertas e fechadas com uma corrente metálica. Umas individuais, sem janela, portas pretas metálicas com um número, têm mantas no chão e algumas ainda têm alimentos em pequenas caixas de plástico. Algumas celas são blocos de cubos de cimento dentro de um edifício de oito ou nove pisos. As outras, colectivas, são igualmente escuras e despidas de qualquer elemento de conforto.

Há documentos por todo o lado, na rua e no interior do edifício: relatórios, fichas de presos, fotografias, passaportes, cartões de identidade; estão em alguns casos misturados com os haveres que os presos levavam quando eram apanhados na teia da repressão. Algumas divisões foram incendiadas. 

Quem perdeu familiares tenta agora encontrar informação sobre os desaparecidos. Foto: jmr

Por aqui passaram os que tiveram a pouca sorte de cair nas garras do regime de Assad. Aqui eram interrogados e torturados para depois serem enviados para a prisão de Sydenaya, onde apodreciam nas masmorras. Muitos desapareceram sem deixar rasto.

Na parada do edifício da “secção Palestina” e em quase todas as divisões deste antro de malvadez, as fotografias dos Assad, pai e filho, foram arrancadas das paredes, rasgadas e pisadas.

Olhando para uma realidade que não engana, vale a pena tentar perceber como alguém ainda consegue defender um regime liderado pela família Assad durante mais de 50 anos. Há quem o faça apenas na lógica de quem é inimigo do meu inimigo, meu amigo é. Estão nesse “clube” muitos daqueles que por não gostarem das políticas ocidentais, em particular dos Estados Unidos, optam por defender carniceiros como Bashar Al Assad. Puro engano. Não há grandes diferenças entre Sydenaya e “secção Palestina” (na Síria), Abu Ghraib (antiga prisão norte-americana no Iraque) e Guantánamo (prisão norte-americana em Cuba).

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