Jabalia – “Total desrespeito pela humanidade”

Campo de Refugiados de Jabalia. Créditos: AFP/Agência Palestiniana de Notícias (WAFA)

No coração do campo de refugiados de Jabalia, a escola Al Fakhoora transformou-se no símbolo da devastação e da desgraça que esta Guerra impõe à população da Faixa de Gaza. É uma escola gerida pela UNRWA (Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos). No dia 18 de Novembro, um ataque israelita matou entre 24 (segundo a UNRWA) a 50 pessoas (segundo o Ministério da Saúde de Gaza). A UNRWA diz que a escola abrigava mais de 7.000 pessoas no momento em que foi atacada. Foi o segundo ataque a esta escola depois de, a 4 de Novembro, um outro ataque ter provocado pelo menos 12 mortos e 54 feridos (segundo a UNRWA). No mesmo dia 18 de Novembro foi atingida uma outra escola da UNRWA, Tall az-Zaatar, também no norte da Faixa de Gaza. No dia anterior, a escola de Al-Falah, zona de Zeitoun a sul da cidade de Gaza, foi atacada e a Autoridade Palestiniana deu conta de pelo menos 20 mortos e uma centena de feridos.

Já percebemos que qualquer local, escolas, hospitais, mesquitas, são alvos “legítimos” desde que Israel diga que suspeita da presença de combatentes do Hamas ou que esses locais servem de base/estrutura de apoio à acção do Hamas. É um argumento que serve para justificar a violação de todas as regras e todas as mortes de civis. Cada ataque faz esquecer o anterior.

Mas, voltando à escola de Jabalia, quase se pode descortinar um acto de vingança num ataque a um local onde 7.000 pessoas estão abrigadas dos bombardeamentos. Jabalia é o coração – e símbolo – da resistência na Faixa de Gaza. Será talvez o local onde os soldados israelitas têm mais receio de entrar. Foi em Jabalia que começou a primeira Intifada (9 de Dezembro de 1987) depois de um carro do exército israelita ter abalroado um carro palestiniano matando 4 pessoas. A partir daí e até 1993 a “guerra das pedras” contra a ocupação israelita só parou em 1993. Chegavam os “Acordos de Oslo” e ecoavam as palavras/alertas de Ben Gurion, primeiro primeiro-ministro do Estado de Israel: “Um povo que luta contra a usurpação da sua terra não se cansará facilmente”.

Criança palestiniana atira pedras a um tanque israelita durante a segunda Intifada. Foto: Musa Al-Shaer AFP

Perante o que Israel está a fazer na Faixa de Gaza parece haver um determinismo que impede acções que travem o massacre. Sim, é disso que se trata. Parece haver algo em que não se pode tocar, criticar, condenar. Ao contrário do embaixador de Israel na ONU, que considerou a ONU irrelevante, a diplomacia ainda impede uma terminologia mais forte mas, apesar da nítida contenção, as palavras do comissário-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, dizem tudo: “Assisti com puro horror aos relatos de um ataque à escola Al-Fakhoura da UNRWA transformada em abrigo no norte de Gaza. É simplesmente cruel. (…) Esta guerra cruel está a atingir um ponto sem retorno quando todas as regras são desrespeitadas, num desrespeito aberto pela vida dos civis. (…) Estes actos não só violam flagrantemente as regras da guerra, como também mostram total desrespeito pela humanidade*”.

A esta hora, mais de dois milhões de pessoas presas num território de 360 km2, de onde é impossível sair/fugir, estão a ser bombardeadas. É assim desde 7 de Outubro. E todos sabemos que é assim. Onde está a “comunidade internacional” que se levantou contra a invasão da Ucrânia em nome do Direito Internacional? As referências ao Direito Internacional quando se fala do conflito israelo-palestiniano apenas têm servido para garantir e expandir os direitos de Israel, negando permanentemente os direitos do povo palestiniano. Nada mais.

* Frase que dá origem ao título

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