
Na semana que passou fiz 30 anos de Antena 1, incluindo alguns de RTP (houve fusão das empresas RDP e RTP). Nesse dia 17 de Maio tinha pensado brindar a todo esse tempo, mas acabei por me esquecer. Afinal, agradeço e brindo todos os dias ao belo dia de sol quando subi e entrei na Rua do Quelhas em Maio de 1993.
30 anos é muito tempo. Aprendizagem, camaradas, amigos, alegrias, lugares, risco, obstáculos, medos, incertezas, sorrisos, más-vontades, sacrifícios, recompensas, de tudo isto se faz o caminho. Recordo com especial carinho os camaradas que perdi. Tenho em especial conta os que se mantiveram íntegros e decentes, os que viveram comigo momentos difíceis, os que deram apoio em momentos de desilusão ou neura. Tenho uma dívida de gratidão para quem me abriu portas a esta caminhada. Acreditem que sou um homem rico. O que esta profissão e esta caminhada me têm dado, não trocaria por nada.
Espero ainda ter força e ânimo para caminhar mais algum tempo, dando preferência aos lugares onde as pessoas precisam da presença de jornalistas, porque sofrem a guerra ou injustiças várias; sempre gostei de lugares onde apenas nos espera um aperto-de-mão e disponibilidade para conversar, mesmo que por vezes seja necessário ultrapassar alguma desconfiança; nunca gostei de “salões dourados”, embora reconheça que alguém tem de fazer esse trabalho.
A fotografia que ilustra este texto foi tirada no Iémen, em 2019. Provavelmente, um lugar que não teria conhecido, não fosse esta caminhada de 30 anos. Todo este tempo, e também a vontade de aprender, levaram-me a conhecer lugares e pessoas que nunca imaginei vir a conhecer. Descobri livros e autores e é com um poema – de um desses autores de quem talvez nunca tivesse lido algum escrito se não fizesse o que faço – que celebro estes 30 anos. Só tenho de estar reconhecido e agradecer a quem tem parte neste meu caminho. Um caminho de partilha e, por isso mesmo, este poema.
Não tenho religião ou credo algum,
não sou nem oriental nem ocidental,
muçulmano ou infiel,
zoroastriano, cristão, judeu ou gentio.
Não venho nem da terra nem do mar,
não sou parente dos de cima ou dos de baixo,
não nasci perto nem longe,
não vivo nem no Paraíso nem na Terra,
não descendo nem de Adão e Eva nem dos anjos do alto.
Transcendo o corpo e a alma.
A minha casa fica para lá do lugar e do nome.
Fica junto dos que amo, num espaço além do espaço.
Abarco tudo e de tudo faço parte.
Jelaluddin Rumi, poeta persa do século XIII