
Os Taliban surgem com esta designação nos anos 90 do século XX. Cresceram entre os diferentes grupos de Mujahideen, apoiados pelos Estados Unidos, que combateram a presença soviética nos anos 80. Depois da retirada soviética e de uma guerra civil, os Taliban governaram o Afeganistão entre 1996 e 2001. Na sequência dos atentados de 11 de Setembro recusaram entregar o líder da Al Qaeda, Ossama Bin Laden, aos Estados Unidos. Os Taliban aceitavam entregar Ossam Bin Laden mas na condição de ser julgado no Afeganistão. Já sabemos que a Administração de George W. Bush não aceitou e sabemos o que se seguiu. A invasão do Afeganistão expulsou os Taliban do poder. Até agora.
O líder desse tempo de poder dos Taliban, Mullah Omar, morreu em 2013, mas os Taliban apenas confirmaram a morte dois anos depois. O sucessor foi Akhtar Mansour, morto por um drone norte-americano em 2016. Foi então a vez de Haibatullah Akhundzada chegar ao poder. É visto como um erudito e é o “líder dos crentes/fiéis” desde 2016. É um Pastun de Kandahar, estudioso da Sharia, a lei islâmica e é visto como um homem discreto que conseguiu reunificar os Taliban após a morte do Mullah Omar e a luta pela liderança. O líder da Al Qaeda, Ayman al-Zawahiri, prometeu-lhe lealdade.

O supremo líder tem a última palavra nos assuntos religiosos, políticos e militares. Após 2001 ensinou e pregou no Paquistão, em Kuchlak, não muito longe da fronteira afegã, p’lo menos até 2016.
A escola de Deoband
Foi, aliás, no Paquistão, que estudaram muitos dos actuais líderes Taliban. Durante a ocupação soviética (1979-1989) refugiaram-se no país vizinho e aí estudaram em escolas que seguem a teologia Deobandi. Uma linha do islão sunita com origem na Índia, muito semelhante à linha Wahabita, seguida na Arábia Saudita, mas com pequenas diferenças.
Os Taliban também fazem uma interpretação literal do Corão, mas integram tradições e regras tribais dos Pashtun, a maior etnia do Afeganistão. A filosofia ancestral dos Pashtuns consiste num código de leis e tradições transmitidos de geração em geração. Honra, vingança, uso da violência, o papel da mulher na sociedade, recebem mais influência dos códigos Pashtun do que da Shariah, a Lei Islâmica.
O “herdeiro”
Outro líder no topo da hierarquia é o Mullah Mohammad Yaqoob.
Carrega o facto de ser filho de Mullah Omar. É o responsável pelas operações militares. Foi apontado como sucessor do pai, mas por ser ainda considerado muito jovem não foi escolhido. Sendo a ascendência um factor de peso está longe de conseguir chegar ao patamar que o pai atingiu.
Rede Haqqani
Outra figura importante é Sirajuddin Haqqani, filho do comandante mujahideen Jalaluddin Haqqani, líder da rede Haqqani. Esta rede foi grande aliada dos Estados Unidos contra a presença soviética no Afeganistão mas acabou na lista norte-americana de organizações terroristas.

Os Estados Unidos oferecem 5 milhões de dólares por Sirajuddin Haqqani.
Protagonista em foco nos últimos dias tem sido o Mullah Abdul Ghani Baradar. É um dos fundadores dos Taliban e foi um dos comandantes em que o Mullah Omar mais confiava.

Cresceu em Kandahar, berço Taliban, lidera o gabinete político e esteve nas negociações no Qatar que conduziram ao acordo para a retirada norte-americana. Aliás, já era chefe da representação política dos taliban no Qatar cargo para que foi nomeado após ter passado oito anos de prisão no Paquistão. Terá sido libertado por pressão norte-americana.
Futuro
Os Taliban não são um grupo homogéneo. São formados por muitas tribos, muitas milícias e muitos senhores da guerra. No Afeganistão, o poder central é algo muitas vezes longínquo e completamente ignorado pelos líderes tribais.
Por agora, a liderança Taliban promete respeitar os direitos das mulheres e das minorias. Prometeram também segurança a diplomatas, instituições e cidadãos estrangeiros. Disseram ainda que aqueles que trabalharam com estrangeiros não vão ser perseguidos.
Um porta-voz Taliban anunciou que o líder Haibatullah Akhundzada decretou um perdão geral, mas os relatos que vão chegando pelas redes sociais e através de contactos com afegãos que continuam no país, já dão conta de atrocidades e perseguições.
Apesar das promessas, as imagens do aeroporto de Cabul nos últimos dias são elucidativas do receio de muitos afegãos de assistirem a um regresso às práticas do tempo em que os Taliban foram poder.
Em 1996, quando os Taliban entraram em Cabul, o Presidente deposto foi torturado, assassinado e o cadáver exposto nas ruas. Os direitos humanos sofreram uma violenta regressão.
Para já, a tomada de Cabul foi diferente do que aconteceu quando os Taliban chegaram ao poder pela primeira vez. O futuro dirá como vai ser o Afeganistão.
NOTA: informação recolhida em fontes próprias, Al Jazeera e AFP.