CTT… de cavalo para burro

Os CTT ilustram de forma perfeita a bagunça para a qual Portugal resvalou. Vamos aos CTT para enviar uma carta registada ou levantar uma encomenda postal que não cabia na caixa de correio e deparamos com uma verdadeira “loja do chinês” ou “dos trezentos”: para além do serviço de correios propriamente dito, vende CD’s, livros, bilhetes para espectáculos e telemóveis… também há seguros e, claro, um Banco. Certamente haverá outros exemplos, mas onde vivo por aí se fica. Comprar um selo pode significar ter de esperar que alguém escolha o modelo de telemóvel, ou o livro, que pretende comprar. É difícil imaginar um trabalhador que tem de passar do aconselhamento na compra de um telemóvel, para uma eventual indecisão entre um livro de José Saramago e outro de Mia Couto, e depois ter de registar uma encomenda postal para Bissau ou Nova Iorque. Habitualmente, também, as máquinas automáticas de venda de selos, não têm trocos… Resultado? Quem vai aos CTT sujeita-se a um tempo de espera inaceitável. Está muito claro que os CTT em vez de servirem os utentes do serviço que prestam, servem-se dos utentes, fazendo-os esperar, porque essa é a melhor forma de manter os trabalhadores permanentemente ocupados retirando deles o maior rendimento possível. Se o serviço que os CTT nos prestam tem um preço, e nós pagamos por esse serviço, também o tempo dos clientes tem um preço e os CTT não podem sequer admitir ter os clientes à espera até ao momento que a empresa decida ser o mais conveniente para o atendimento.
Da mesma forma que o transporte aéreo (pelo menos na União Europeia) já regulamentou as compensações que as companhias aéreas estão obrigadas a pagar em caso de atrasos nos voos (em função do tempo de atraso e do destino), também os CTT e outras empresas prestadoras de serviços, deveriam ser obrigadas a indemnizar os utentes e clientes sempre que estes são forçados a esperar um tempo para além do razoável. Aliás, é fácil saber o tempo de espera porque as senhas de atendimento têm a hora a que são emitidas (e se em alguns casos isso não acontece é fácil fazer a alteração). Depois, é apenas verificar a hora a que o atendimento é concretizado. Essa seria uma forma de todos sermos mais respeitados por uma série de empresas e serviços que abusam da posição que ocupam no mercado.
Ainda quanto aos CTT, sobre a distribuição postal nem vale a pena falar. Já todos, ou quase, percebemos que o carteiro agora toca duas vezes, mas é por semana. E é quando é. Eis senhoras e senhores o resultado da privatização; há accionistas que recebem dividendos, sendo que nós recebemos um serviço cada vez pior.
A venda dos CTT, pormenores do negócio à parte, ilustra a visão que alguns têm do Estado e do que o Estado deve ser. Mas, mesmo sendo os CTT uma empresa agora privada, ali para os lados de São Bento (em Lisboa) deveria haver alguém a pensar nesta questão: como é que as empresas podem ser obrigadas (sim, obrigadas) a respeitar quem a elas recorre (e paga por isso). Todos ficaríamos gratos.
Pinhal Novo, 13 de Julho de 2017
josé manuel rosendo

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