
O apoio internacional está a desmoronar-se e o governo de Israel começa a perceber que esse caminho dificilmente terá retorno. Começa até a ser difícil aos mais empedernidos comentadores pró-Israel, defenderem uma causa que já esgotou todos os recursos de narrativas enviesadas, forjadas, de descredibilização do inimigo e de criação de realidades paralelas. As teorias da conspiração, as alegações de informação falsa e manipulada, a semântica de filigrana que durante algum tempo iludiu as opiniões públicas, tudo isso deixou de funcionar. Por um lado, as imagens da Faixa de Gaza são demasiado fortes e o sofrimento palestiniano é demasiado evidente e chocante; por outro lado, as afirmações dos mais altos responsáveis israelitas de que não há fome em Gaza e de que não houve uma decisão política para provocar a fome em Gaza, acabaram de vez com as dúvidas entre aqueles que ainda acreditavam na bondade das intenções e na veracidade de muitas das afirmações do governo de Israel.
O mais espantoso é que nestas derradeiras tentativas de descredibilizar as imagens que chegam de Gaza, alguns comentadores ainda ousem dizer que todas essas imagens são controladas pelo Hamas e que só chegam ao exterior as imagens que o Hamas autoriza. Também recusam a situação de genocídio e nem sequer têm noção do ridículo a que este tipo de afirmações os sujeita, num momento em que nem Israel desmente o número de mortos em Gaza (já são mais de 60 000) e que, aliás, deve ser muito superior ao que tem sido divulgado pela defesa civil de Gaza, afecta ao Hamas. Sobre esta matéria, é bom recordar que as duas mais prestigiadas organizações de direitos humanos israelitas produziram um documento a que deram o título de “O nosso genocídio”.
Tenhamos em conta que estamos perante quase dois anos de guerra, num território de 360km2, atacado por um dos exércitos mais poderosos do mundo, recheado de capacidades tecnológicas e com apoio militar da maior potência mundial. Ainda assim, alguns comentadores consideram que o Hamas tem capacidade para controlar as imagens que chegam de Gaza e, assim, manipular as opiniões públicas. O Hamas, cuja liderança política e militar foi decapitada, os segundos e terceiros homens na cadeia de comando foram também abatidos, milhares de combatentes foram mortos e as estruturas de resistência e combate foram destruídas, o Hamas mantém – segundo alguns comentadores – a capacidade para controlar o que fazem os jornalistas que estão em Gaza e as imagens que daí enviam ao mundo.
O desespero de tais comentadores aumenta à medida que já não há forma de negar a realidade no terreno. Ainda vão repetindo a “lenga-lenga” da cartilha redigida em Telavive, mas nota-se que vão perdendo fulgor e convicção.
A última tentativa é agora falarem numa “percepção”, alegadamente construída com o objetivo de criar uma imagem falsa relativamente à situação em Gaza. Tentam instalar uma última dúvida em quem os ouve, dando a entender que há uma construção elaborada da realidade de modo a que a imagem de Israel seja afectada.
Não entendam como presunção ou pedantismo, mas devo confessar que até tenho pena de ver algumas pessoas prestarem-se a este papel, até porque não há forma de apagar o que têm andado a dizer.
O que o governo de Israel está a fazer em Gaza não é uma questão de opinião sobre um qualquer acontecimento. É factual e é uma questão de Direitos Humanos. Cada um de nós tem o direito inalienável à liberdade de expressão, mas não tem o direito de violar ou defender a violação dos Direitos Humanos. Isso é crime!
Pinhal Novo, 3 de Agosto de 2025
01h00
jmr
