Censura em tempo de guerra

As novas regras de censura divulgadas por Israel a 16 de Junho de 2025

Neste momento estamos às escuras em termos de informação fidedigna, concreta, verdadeira, sobre o impacto e os danos que a troca de mísseis e ataques entre Israel e o Irão estão a provocar. Do Irão apenas chegam imagens oficiais, através de canais oficiais, da Press TV (em inglês), ou da televisão pública IRIB e das agências de notícias, nomeadamente a IRNA News Agency. Para além disso, confesso que não dei conta de reportagens ou directos de jornalistas ocidentais em Teerão. A actividade de jornalistas estrangeiros no Irão é sempre muito condicionada.

Em Israel, há jornalistas ocidentais, mas as restrições são imensas. Aliás, Israel impõe sempre aos jornalistas estrangeiros a assinatura de um termo de responsabilidade no qual se comprometem a submeter à censura militar as imagens que possam comprometer a segurança do Estado. Agora, essas regras continuam, mas estão muito mais apertadas (ver foto e ampliar). Aliás, a própria comunicação social israelita há muito que pratica uma autocensura relativamente aos ataques em Gaza. Com excepção do jornal Haaretz e do jornal online +972magazine (e eventualmente outros), a maioria das televisões e jornais israelitas não mostra o massacre a que os palestinianos estão a ser sujeitos e que, por exemplo, nós podemos ver em Portugal, através dos nossos jornalistas e das imagens que chegam através das agências de notícias ou das televisões internacionais.

Esta terça-feira, 17 de Junho, um porta-voz da polícia israelita fez saber o seguinte: “Soubemos que alguns membros da imprensa estão a filmar áreas sensíveis e restritas após impactos de mísseis, apesar das instruções claras e repetidas dos agentes da polícia no local, bem como das orientações anteriores emitidas pela Censura Militar. Tais ações são ilegais e irresponsáveis. Colocam em risco a segurança pública, interrompem operações de emergência e podem, involuntariamente, auxiliar actores hostis. (…) Apelamos a todos os jornalistas e órgãos de comunicação social que demonstrem responsabilidade e cumpram a lei. Aqueles que optarem por violar estas restrições serão integralmente responsabilizados, de acordo com a lei”.

O ministro da segurança interna, Ben Gvir, já ameaçou prender jornalistas estrangeiros que recolham imagens em zonas atingidas pelos ataques iranianos: “Mostrar onde caíram os mísseis em território israelita é um perigo para a nossa segurança e espero que os que transmitam desses locais sejam tratados como ameaças à segurança”.

A informação que vamos tendo sobre esta guerra resume-se às declarações e comunicados oficiais. As imagens que chegam de Israel são dos feeds das agências internacionais com câmaras permanentemente ligadas e apontadas para o céu de Telavive, Jerusalém e Haifa, as que são libertadas pela censura militar israelita e… directos de jornalistas nos locais onde lhes é permitido chegar, sem que possa ser mostrado o que realmente está a acontecer. Depois, temos as redes sociais, utilizadas por fontes oficiais e cidadãos comuns, com imagens de alegados estragos por impactos provocados por mísseis mas que, em muitos casos, são impossíveis de verificar, havendo muitas imagens fabricadas ou de locais que não correspondem à informação associada.

Esta censura não é nova, aliás é comum – quase uma regra – em situações de guerra. Na Ucrânia há censura e os jornalistas também não têm acesso a todos os locais e em muitos deles, nomeadamente nas zonas da frente de guerra, só depois de coordenação com os militares, com acompanhamento deles e quando eles autorizam. Há censura em todas as guerras, mas neste caso Israel-Irão estamos perante dois países que têm o acesso à informação completamente trancado e, neste caso concreto, as televisões são quem mais sofre, ficando horas a fio apenas com as imagens de câmaras apontadas aos céus das cidades israelitas à espera de ver mísseis iranianos a chegar e a serem interceptados pela defesa aérea israelita. No caso iraniano, nem isso.

Este tipo de censura é vista pelos países beligerantes como uma forma de garantir a segurança e evitar que os cidadãos de um país entrem em pânico. Ao mesmo tempo, a necessidade dos jornalistas obterem informação, dá mais visibilidade ao pouco que é divulgado e assim garante também que as narrativas oficiais são as únicas que podem ser seguidas, procurando cada uma das partes a vitimização e a justiça que supostamente lhe assistem na guerra em que está envolvida.

O certo é que para além das declarações oficiais de governantes e líderes militares, pouco sabemos de concreto relativamente ao que está a acontecer em Israel e no Irão.

Pinhal Novo, 18 de Junho de 2025

02h00

jmr

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