Não há Natal na Faixa de Gaza

Funeral de duas cristãs (Nahida e Samar), em Gaza, na Igreja Latina, dia 18 de Dezembro de 2023. Foto: Palestinian Christians

Este é um Natal particularmente triste em Jerusalém, Belém e Faixa de Gaza. As festividades foram canceladas, por impossibilidade de concretização ou por solidariedade. Não há contexto para qualquer tipo de comemoração perante o sofrimento dos palestinianos na Faixa de Gaza e também na Cisjordânia.

Os cristãos do enclave palestiniano não escapam às consequências da guerra: Nahida e Samar, mãe e filha, cristãs, foram abatidas, sábado, por um “atirador de elite” israelita, quando estavam abrigadas na única Igreja católica da cidade de Gaza. O Patriarca latino de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa, refere que outras sete pessoas foram feridas, baleadas a “sangue-frio”, e acrescenta que não havia qualquer motivo para isso: “Não havia nenhum beligerante dentro dos muros da paróquia”.

O Patriarca latino de Jerusalém dá também conta de um outro ataque no mesmo dia, no mesmo local: “um projéctil disparado por um tanque israelita” teve como alvo o convento das Irmãs da Caridade de Madre Teresa, localizado no mesmo complexo e que acolhe 54 doentes. O gerador da paróquia, única fonte de energia eléctrica, e as reservas de fuelóleo foram destruídos no ataque que provocou uma explosão e um incêndio que danificaram o convento. Dois outros ataques tornaram-no inabitável e os residentes, com deficiência, estão agora privados de aparelhos respiratórios.

O exército israelita disse à Agência France Press que iria averiguar estas acusações.

Funeral de cristãos em Gaza, dia 20 de Outubro de 2023. Neste ataque israelita morreram 18 pessoas. Foto: Palestinian Christians

Esta não foi a primeira vez que a comunidade cristã foi directamente atingida pela guerra na Faixa de Gaza. A 19 de Outubro, um ataque à Igreja Ortodoxa de S. Porfírio de Gaza provocou 18 mortos e dezenas de feridos.

Em Gaza há 135 católicos entre cerca de um milhar de cristãos. A comunidade católica em Gaza é muito reduzida, mas a obra desenvolvida não é apenas dirigida às famílias católicas. O Patriarcado Latino de Jerusalém e as Irmãs do Rosário têm escolas para centenas de crianças onde apenas 10% são de famílias católicas. Proporcionam também cuidados a crianças e idosos que sofrem de algum tipo de deficiência.

Na cidade de Gaza, uma missa católica celebrada por Monsenhor Manuel Musallam, dia 22 de Dezembro de 2006. Foto: jmr/arquivo

Durante muitos anos, Manuel Musallam (na foto acima) foi o “Monsenhor” de Gaza e desenvolveu uma actividade que lhe mereceu o respeito das várias facções palestinianas com influência em Gaza sem nunca ter havido problemas com a prática religiosa num espaço onde a esmagadora maioria das pessoas são muçulmanas.

Em Belém, na Cisjordânia, a iluminação de Natal foi retirada e a Igreja Luterana da Natividade adaptou o tradicional presépio substituindo a manjedoura por pedras que simbolizam a destruição provocada na Faixa de Gaza. Uma figura do menino Jesus envolvido por um keffiyeh palestiniano está no topo de uma pilha de escombros. Ao lado está uma pequena oliveira, símbolo de firmeza para os palestinianos, e de paz.

Igreja Luterana da Natividade, Belém, dia 3 de Dezembro de 2023. Foto: Palestinian Christians

O “menino” deitado nas pedras é a imagem deste Natal, em Belém, onde habitualmente tem lugar a Missa do Galo, a que assiste o corpo diplomático e o acesso – por limitação de lugares – é só para quem tem convite. Este ano há Missa do Galo, mas a procissão que atravessa a Praça da manjedoura junto à Basílica da Natividade não terá música e haverá um reduzido número de escoteiros.

Missa Galo, Capela de Santa Catarina, em Belém. Natal de 2006. Foto: jmr/arquivo

Fica o link para quem quiser assistir à Missa do Galo, em directo, na Capela de Santa Catrina, ao lado da Basílica da Natividade. https://www.youtube.com/watch?v=D02cZVGO5do

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